A atividade física é cada vez mais popular na busca por um corpo saudável e em boa forma. A creatina tem ganhado destaque, especialmente entre os jovens interessados em um porte atlético. Ela é produzida no corpo a partir de aminoácidos e também é obtida na alimentação, principalmente em carnes vermelhas e peixes. A creatina é armazenada nos músculos e em menor quantidade em outros tecidos. Seu uso tem sido associado ao aumento da performance muscular, crescimento de massa muscular e melhora de doenças neuromusculares e tolerância à glicose. No entanto, há debates sobre se o aumento da massa magra se deve à hipertrofia ou à redução hídrica, devido ao seu alto valor osmótico. Estudos indicam que a suplementação de creatina pode otimizar a tradução proteica e influenciar a ativação de células satélites. Diante da ampla utilização da creatina por atletas e praticantes de musculação, este artigo tem como objetivo analisar seus efeitos no organismo, destacando seus benefícios.
Creatina
A creatina é uma substância produzida pelo corpo e pode ser obtida através da alimentação ou em forma de creatina mono-hidratada. Ela atua melhorando a adaptação ao treino, aumentando fatores como IGF-1, expressão gênica e volume de água dentro das células. Ao entrar na célula, a creatina se converte em fosfocreatina, servindo como reserva de energia, com uma média de 1g/dia. Durante a contração muscular, a fosfocreatina facilita a restauração do ATP, permitindo ao praticante maior resistência durante o treino, resultando em melhorias desejadas pelos atletas.
Creatina e massa corporal
A creatina desempenha um papel crucial no ganho de massa muscular ao influenciar os fatores de transcrição miogênica. A suplementação de creatina em conjunto com o treinamento de resistência reduz os níveis de miostatina, um inibidor do crescimento muscular. Estudos demonstram que isso resulta em uma redução significativa no diâmetro da fibra muscular. O protocolo recomendado inclui uma fase inicial de 20g/dia na primeira semana, seguida de doses de manutenção de 0,1-3g/kg de peso corporal por dia. Em vegetarianos, a creatina pode ser ainda mais benéfica, compensando a redução nos níveis de IGF1 comumente observada nesse grupo. A creatina atua de diversas formas no processo de hipertrofia, incluindo a inibição da miostatina, a ativação de células satélites e a estimulação de fatores reguladores miogênicos. Além disso, aumenta as reservas musculares para facilitar a ressíntese de ATP, proporcionando maior resistência em exercícios de alta intensidade. A creatina é amplamente considerada um suplemento seguro e eficaz, sendo recomendada pelo COI e pela ISSN como um dos suplementos mais eficazes disponíveis. A absorção e transporte de creatina são mediados pelo transportador CreaT1, cuja eficiência está relacionada às concentrações de cloreto e sódio no meio. A maioria da creatina é direcionada para o músculo esquelético, onde é utilizada na produção de ATP, resultando em um aumento notável no desempenho durante exercícios de alta intensidade.
Creatina na força muscular
A creatina monohidratada é um suplemento que aumenta os estoques de creatina fosfato (PCr) no músculo, facilitando a ressíntese de ATP, a molécula responsável pela produção de energia durante o exercício. Esse efeito é particularmente benéfico em atividades de alta intensidade e resistência, como a musculação. Estudos mostraram que a suplementação com creatina resultou em melhorias significativas em potência, pico cinético, ciclo isocinético e força em repetições, especialmente quando associada a um protocolo de 20g de creatina por dia durante os primeiros 5 dias, seguido por doses de manutenção de 0,1g por quilo de peso corporal. A PCr, uma forma fosforilada de creatina, desempenha um papel crucial no fornecimento de energia para os músculos esqueléticos durante a contração e relaxamento muscular, pois possui uma ligação fosfato de alta energia semelhante à do ATP. O aumento de força é observado independentemente do tipo de treino, sendo resultado de alterações fisiológicas nos indivíduos, embora variações nos resultados possam ocorrer devido a fatores como controle nutricional e diferenças individuais.
Creatina e a função renal
O protocolo de 20g de creatina por dia durante 7 dias pode levar a um aumento nos níveis de creatinina no sangue, o que pode erroneamente sugerir um quadro de doença renal. Isso ocorre porque a Taxa de Filtração Glomerular (TFG) é calculada com base nos níveis de creatinina sérica, e a suplementação eleva esses níveis. Como a creatina não é considerada um medicamento, os pacientes podem não informar seu uso ao realizar exames médicos, levando a possíveis diagnósticos incorretos de doença renal. Além disso, existem poucos estudos sobre o uso de creatina em pacientes que já possuem doença renal, o que torna a recomendação geral a evitar o suplemento nesses casos.
10 Benefícios da Creatina
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Contra Tumores: As células T, que desempenham um papel crucial na defesa do organismo, também combatem a formação de tumores. Para enfrentar esses processos, o organismo requer uma grande quantidade de energia proveniente do ATP. Em estudo com ratos, foi observado que uma diminuição nos níveis de creatina resultou em uma redução na eficácia do sistema imunológico na luta contra tumores. Por outro lado, a suplementação de creatina, quando combinada com o bloqueio de inibidores de checkpoint, aumentou significativamente a eficácia no combate aos tumores, suprimindo sua formação.
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Contra Depressão: A creatina, devido à sua capacidade de restaurar o ATP, mostrou ser eficaz como fator neuroprotetor em estudos envolvendo adultos com transtorno depressivo maior. Atuando como antioxidante e melhorando as condições cerebrais, a creatina foi capaz de reduzir as condições que favorecem a depressão. Um estudo conduzido por Bakian e sua equipe (2020) destacou a eficácia da creatina, especialmente em mulheres, onde cada grama ingerida resultou em uma redução de 18% na probabilidade de comportamentos depressivos.
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Suplementação de creatina em idosos: Até os 50 anos, indivíduos têm uma força padrão. Após essa idade, há uma queda anual de cerca de 1,5%, acompanhada de perda de massa muscular, avaliada pelo indicador chamado dinapenia. Em idosos, a creatina melhora a fadiga muscular e, especialmente, a resistência, sendo sua eficácia influenciada por uma dieta apropriada. No entanto, não se conhece a dosagem exata que beneficia a função cerebral.
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Pacientes com distrofias: Indivíduos com distúrbios musculares tendem a apresentar baixos níveis de PCr nos músculos devido a um defeito no transportador de creatina. Portanto, a suplementação é mais eficaz para essa categoria de pessoas. Em experimentos com animais portadores de patologias neurodegenerativas, a creatina demonstrou reduzir o estresse oxidativo e aumentar a carga de energia cerebral. Em animais com distrofias musculares, a suplementação também conseguiu reduzir a perda muscular.
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Contra sarcopenia: A sarcopenia, a perda de massa muscular comum em pessoas com mais de 60 anos, resulta de diversas alterações metabólicas, moleculares e celulares. A creatina se destacou nesse contexto, pois atua como um regenerador de ATP, promovendo maior desempenho muscular quando necessário. Além disso, tende a se acumular em áreas com maior concentração de ADP, contribuindo para sua neutralização.
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Aumento da Força Muscular: A creatina auxilia no aumento da disponibilidade de energia para os músculos, o que pode resultar em maior força durante os exercícios de alta intensidade.
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Melhora da Performance nos Treinos: Aumenta a capacidade de realizar repetições e séries em exercícios de alta intensidade, contribuindo para um treino mais eficaz.
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Estimula o Crescimento Muscular: A creatina promove o aumento da massa muscular, principalmente quando combinada com treinamento de resistência.
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Auxílio na Recuperação Muscular: Pode reduzir os danos musculares após o exercício, acelerando a recuperação e permitindo treinos mais frequentes e intensos.
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Melhora da Saúde Cerebral: Além dos benefícios musculares, a creatina também pode ter efeitos positivos na função cerebral, sendo estudada em contextos neurológicos e de saúde mental.
Referência
Brito, G. H. S. (2020). Os efeitos da suplementação de creatina no organismo. Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação, apresentado ao curso de Biomedicina da Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC Goiás, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel. Orientador(a): Prof. Dra. Iasmin Ribeiro da Costa. Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas, Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Goiânia, GO, Brasil.